ERECOM Theresina 2011

Entrem na Escola do Mundo ao Avesso! Que se alce a lanterna mágica, imagem e som! As ilusões da vida em favor do comum estamos oferecendo, para ilustração do público presente e bem exemplo das gerações vindouras! Venham ver o rio que cospe fogo! O senhor sol iluminando a noite! A senhora lua em pleno dia! As estrelas expulsas do céu! O bufão sentado no trono do rei! A varinha mágica que transforma o menino em uma moeda! O mundo perdido em um jogo de dados. Mas, não confunda com as grosseiras imitações. (Adaptado de Eduardo Galeano)

Abas

3 de mar. de 2011

A função social da educação

A primeira pergunta a que temos que nos fazer quando falamos de outro modelo de educação ou outro modelo de universidade é: qual a função social da educação? Qual o papel social da universidade? Se conseguirmos refletir sobre a função da universidade, o porquê de instituições como essas existirem e, invariavelmente, serem citadas como os pilares de uma sociedade, devemos em seguida nos questionar: essas instituições estão cumprindo com o seu papel?
Compreendemos a educação como um importante instrumento de emancipação humana. Porém, durante muito tempo o modelo hegemônico de educação tem servido como instrumento fortalecedor de estruturas e mantenedor do modelo socioeconômico do sistema capitalista. Para entender como a nossa educação e a nossa universidade têm servido para manter o status quo, é preciso antes perceber como esse processo se deu. Segundo Mauro Luis Iasi, “só é possível conhecer algo se o inserirmos na história da sua formação, ou seja, no processo pelo qual ele se tornou o que é; assim é também com a consciência: ela não ‘é’, ‘se torna’”.  
Uma vez constituída e instituída a propriedade privada, houve uma divisão entre aqueles que trabalham e aqueles que poderiam se dedicar ao intelecto. A classe trabalhadora, maior parte da sociedade, foi condicionada a tarefas funcionais, sendo privada da construção do saber. Compreendendo que o conhecimento é o ponto de partida para a emancipação do ser humano, para se manter no poder, a classe dominante, de diversas formas, tem mantido limitada a participação da classe trabalhadora dentro do processo educativo.
Sendo assim, a educação tanto pode servir para aprisionar e subordinar o povo à exploração, como também é imprescindível para a sua libertação, só depende a quê e a quem ela serve. A diferença, entre uma e outra, vamos encontrar nos objetivos, coletivos e individuais, nas idéias, nos princípios e no projeto. Justamente por isso, a classe oprimida precisa desenvolver e utilizar um novo modelo de educação que compreenda as demandas da maioria da população e sirva como ferramenta para a sua própria libertação.
No entanto, para nós é complicado pensar no novo, quando o que temos é visto como natural. Nesse ponto é interessante citar Iasi mais uma vez, para ele, “parece-nos que na escola, por exemplo, ao nos inserirmos em relações preestabelecidas, não conseguimos ter a crítica de que é apenas uma forma de escola, mas a vivemos como ‘a escola’. Passamos a acreditar ser essa a forma ‘natural’ e acabamos por nos submeter. Na escola, as regras são determinadas por outros que não nós, outros que têm o poder de determinar o que pode ser feito... As normas externas interiorizam-se: a disciplina converte-nos em cidadãos disciplinados”.
No período da ditadura militar no Brasil, a educação no nosso país estava moldada em busca de formar, em massa, mão-de-obra qualificada para entrar nas fábricas. Nesse sentido houve um aumento no número de pessoas nas escolas. Atualmente, cresce o número de alunos dentro das universidades para atender as demandas das mega empresas prestadoras de serviço, como saúde, educação e segurança. Isso quer dizer que esse ensino não estão oferece às pessoas subsídios para sua emancipação, individual e coletiva, muito menos para suprir as demandas, nem para combater as contradições sociais, mas, serve unicamente, para atender as condições impostas pelo mercado. Esse tipo de educação, conhecida como educação bancária, não nos convém, pois não serve para causar um nível de conscientização do povo.
A Educação deve servir para além da formação de produtos prontos a serem vendidos em prateleiras do mercado de trabalho, onde quem manda é o patrão. As pessoas não devem ser vistas como um produto amorfo e sem rosto, que tem como único objetivo encontrar seu lugar no mercado de trabalho. Sendo assim, no que diz respeito a universidade, esta deve ser vista como mais um espaço de formação e educação e não apenas como um novo grau de instrução. Precisamos entender sua função social enquanto produtora de conhecimento para atender as verdadeiras demandas da sociedade. Como poderia a universidade construir conhecimento, para dar soluções a problema sociais, se a universidade se fecha para a sociedade e para a comunidade onde está inserida?
Na teoria, a universidade brasileira se baseia a partir do desenvolvimento do ensino, pesquisa e extensão, trabalhados juntos, um como complemento do outro. No entanto, o que vemos ocorrer  na prática é a dissociação entre esses três pilares, sem a compreensão de que o ensino pressupõe uma pesquisa constante, que por sua vez precisa de uma engajamento social, atendendo às necessidades reais da sociedade, se efetivando na prática através de projetos de extensão. Porém, a extensão tem se resumido a espaços e cursos assistencialistas para a comunidade, como os cursos de línguas oferecidos a população a um preço razoavelmente acessível. É o máximo que algumas universidades conseguem fazer para se promover como espaço público e pertencente à todos.     A extensão universitária também tem sido utilizada como vitrine de projetos assistencialistas, principalmente das universidades pagas, como forma de estabelecer um marketing social.
“Não há um ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Esses que-fazeres se encontram um no corpo do outro. Enquanto ensino continuo buscando, reprocurando. Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para constatar, constatando, intervenho, intervindo educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar e anunciar a novidade.”    Paulo Freire
Defender o princípio da indissociabilidade do ensino, pesquisa e extensão é caminhar para uma educação integrada, composta de sujeitos envolvidos na construção conjunta de um conhecimento comprometido com a realidade. Assim, defendemos uma educação que tenha como princípios a criticidade, levando em conta a investigação e a pesquisa, como também a aproximação com a sociedade, derrubando os muros que nos separam, não se restringindo a reprodutibilidade a que nosso ensino tem se resumido.

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